Ao longo da nossa vida deparamo-nos com muitos obstáculos, que somos “obrigados” a ultrapassá-los para sobrevivermos em sociedade. Somos também habituados, desde crianças, a superar os nossos medos, os nossos limites, as nossas dificuldades e a desenrascarmo-nos nas situações mais difíceis.
Mas como superaríamos as nossas dificuldades se fossemos surdos? E se fossemos mudos como comunicaríamos? E se fossemos cegos, como ultrapassaríamos as barreiras que nos são impostas pela sociedade?
Foi isso que, dentro dos possíveis, quisemos experimentar.
Como pessoas perfeitamente normais que somos não nos importávamos com as dificuldades que estas pessoas têm. Claro que nos tocava quando convivíamos de perto com alguma situação destas, mas pouco ou nada poderíamos fazer. Apenas poderíamos lamentar a situação da pessoa.
Pensávamos que fazer de muda seria fácil, ou melhor, “canja”. Contudo, ao longo da nossa experiência percebemos que nem tudo era “canja”.
Ser muda implica ter uma menor comunicação com os outros, o que compromete a participação nas aulas e a tentativa de ajudar outras pessoas com deficiência (como por exemplo, a outra colega que fazia de cega).
A frustração que se sentia pela limitação de comunicar foi atenuada pelos meios de comunicação actuais (telemóvel), que foram servindo para as mudas se exprimirem.
Já todas sabíamos que fazer de cega não ia ser fácil, mas nesta escola é praticamente impossível! Ir à casa de banho, sendo cega, não é tarefa fácil, é uma dependência embaraçadora. Também comer no refeitório não é fácil, só com ajuda de colegas e de funcionários, se pode comer nas mínimas condições.
O barulho feito pela comunidade escolar e os espaços amplos da escola, dificultaram o nosso pouco sentido de orientação. Não há pontos de referência na escola, pelo que facilmente uma cega se perde.
A reacção das outras pessoas da comunidade é, infelizmente, um outro ponto negativo a destacar. Em vez de tentarem ajudar as pessoas com dificuldade (cegas), afastavam-se, como se as pessoas cegas tivessem algum tipo de doença contagiosa. Apenas alguns colegas da escola ajudaram, enquanto que outros se limitavam a gozar e a proporcionar ainda mais dificuldades às cegas (como se já fossem poucas!!).
Com este trabalho percebemos que a “impotência” que todos sentimos perante estas pessoas, não passa de uma barreira que todos podemos (e devemos) ultrapassar.
A nossa “ajuda” perante estas pessoas é a nossa mudança de mentalidade e o crescimento como pessoas.
Não devemos ficar parados e desenvolver o mundo à imagem e à semelhança das pessoas normais. Todos temos o direito de poder fazer TUDO, e não ficarmos limitados a fazer aquilo que podemos. Para estas pessoas, aquilo que elas podem fazer é aquilo que os outros as deixam fazer.
Se todos contribuíssemos para que os deficientes motores tenham mais rampas e elevadores, eles poderão movimentar-se com maior facilidade, quer no meio escolar, quer na nossa sociedade. Se todas as escolas tivessem planos escolares que incluíssem os mudos e os surdos, mas sem que estes tivessem de integrar uma turma de ensino especial, teríamos alunos mais motivados, não negligenciados e não discriminados, contribuindo para uma escola com melhor ambiente e resultados. Quanto aos cegos, é necessário criar sistemas que lhes permitam identificar os diversos espaços escolares (talvez sons, materiais de construção diferentes para cada espaço, etc.), mas também fornecer às bibliotecas municipais e escolares livros de apoio para pessoas invisuais. Também computadores, telemóveis, jornais, revistas e outras tecnologias, deveriam ser acessíveis às pessoas cegas.
Mas não só na escola se devem aplicar estas regras de sociedade. Também na nossa sociedade deveríamos ter estas condições, para que todas as pessoas tivessem as mesmas oportunidades, independentemente da deficiência que se tenha.